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Luiz Puntel: Meninos sem pátria (1981)

Meninos sem pátria
é uma novela juvenil, de narrativa histórica, do escritor brasileiro Luiz Puntel, publicado originalmente no Brasil em junho de 1981 pela editora Brasiliense, com temática histórica sobre a ditadura militar no Brasil e a perseguição a jornalistas, levando-os, juntamente com a família, ao exílio em outros países. | Álbum de Capas do Autor |


Marcão e Ricardo vivem na pequena cidade de Canaviápolis com a mãe, que está grávida, e com o pai, que é jornalista. Durante uma partida decisiva de futebol de botão o pai dos meninos chega em casa apavorado, contando que arrombaram a redação do jornal onde trabalha. Alguns dias depois, a família começa a receber ameaças pelo telefone e na rua. O jornalista e a mulher ficam preocupados, até que um dia o pai de Marcos desaparece. Com a ajuda de freiras, eles descobrem que o pai está na Bolívia e começam então uma verdadeira jornada no exílio, passando pelo Chile e pela França. [fonte: orelha, 2016, Ática] Na Europa, Marcão faz grandes amizades e aparecem os amores, como a encantadora francesinha Claire. Mas o rapaz sabe que é tudo provisório... Um dia chegará o momento de retornar. Acompanhando os passos desses meninos sem pátria, você vai conhecer a difícil jornada de jovens forçados a abandonar o Brasil durante os anos de repressão do governo militar, que foi imposto ao país em 1964. [fonte: contracapa, 1999, Ática]


Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 2016 (23ª edição). ISBN: 978-85-08-18140-7. Capa de Marcelo Martinez, baseado em ilustração original de Jayme Leão. Ilustrações de Jayme Leão.
Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | 2016-atualmente (2020) | ISBN: 978-85-08-18140-7 | Capa: Marcelo Martinez (baseado em ilustração original de Jayme Leão) | Álbum de Capas da Coleção |

Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | Outubro 2015 | ISBN: 978-85-08-18140-7 | Capa: Marcelo Martinez (baseado em ilustração original de Jayme Leão) |Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | Outubro 2015 | ISBN: 978-85-08-18140-7 | Capa: Marcelo Martinez (baseado em ilustração original de Jayme Leão) |
Meninos sem pátria | Edição Especial* | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | Outubro 2015 | ISBN: 978-85-08-18140-7 | Capa: Marcelo Martinez (baseado em ilustração original de Jayme Leão) | Álbum de Capas da Coleção |
*Edição Especial de Aniversário de 50 anos da editora Ática, com capa e contracapa que brilha no escuro.

Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1999-2016 (20ª a 22ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão. Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1999-2016 (20ª a 22ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão.
Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | 1999-2016| ISBN: 85-08-02769-9 | Capa: Jayme Leão (ilustração) | Capa: Ary Almeida Normanha (leiaute) | Ilustrações: Jayme Leão | Prefácio: autor não mencionado (Emoção num episódio de nossa História recente) | Álbum de Capas da Coleção |

Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1994-1998 (14ª a 19ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão.Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1994-1998 (14ª a 19ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão.
Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | 1994-1998 | | ISBN: 85-08-02769-9 | Capa: Jayme Leão (ilustração) | Capa: Ary Almeida Normanha (leiaute) | Ilustrações: Jayme Leão | Prefácio: autor não mencionado (Emoção num episódio de nossa História recente) | Álbum de Capas da Coleção |

Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1988-1993 (9ª a 13ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão. Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1988-1993 (9ª a 13ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão.
Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Ática | São Paulo-SP | Coleção: Vaga-Lume | Março 1988-1993 | ISBN: 85-08-02769-9 | Capa: Jayme Leão (ilustração) | Capa: Ary Almeida Normanha (leiaute) | Ilustrações: Jayme Leão | Orelha: Eduardo Carlos Pereira "Edu" (história em quadrinhos) | Prefácio: Luiz Puntel (Com licença, posso entrar?) | Álbum de Capas da Coleção |

Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Brasiliense. Coleção Jovens do Mundo Todo. 1983-1984 (4ª a 8ª edição). Capa e contracapa de Martin Kovesky.Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Brasiliense. Coleção Jovens do Mundo Todo. 1983-1984 (4ª a 8ª edição). Capa e contracapa de Martin Kovesky.
Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Brasiliense | São Paulo-SP | Coleção: Jovens do Mundo Todo | 1983-1984 | Capa: Martin Kovesky | Contracapa: Martin Kovesky | Álbum de Capas da Coleção |

Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Brasiliense. Coleção Jovens do Mundo Todo. 1981-1982 (1ª a 3ª edição). Capa de Ricardo Farkas.Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Brasiliense. Coleção Jovens do Mundo Todo. 1981-1982 (1ª a 3ª edição). Capa de Ricardo Farkas.
Meninos sem pátria | Luiz Puntel | Editora: Brasiliense | São Paulo-SP | Coleção: Jovens do Mundo Todo | Junho 1981-1982 | Capa: Ricardo Farkas | Álbum de Capas da Coleção |

Outras informações:

O período histórico tratado no livro é o do governo militar no Brasil (conhecido como ditadura militar brasileira), iniciado em 31 de março de 1964 e que durou até 15 de março de 1986. A narrativa do livro termina pouco após agosto de 1979, quando o governo promulgou a Lei da Anistia (Lei Nº 6.683, de 28 de agosto de 1979), permitindo que exilados políticos retornassem ao Brasil. 

O livro é uma obra de ficção baseada na história do jornalista José Maria Rabelo, fundador do jornal O Binômio (1952-1964), que se exilou na Bolívia, no Chile e na França durante o ditadura militar no Brasil. [fonte: Agenda Bafafá] No livro, o nome do jornal é O Binóculo e o nome do pai do protagonista é Zé Maria.

Personagens: Marcão | Zé Maria (pai) | Terezinha "Tererê" (mãe) | Ricardo (irmão) | Pablo (irmão) | Nicole (irmã) | Quinzinho (jornalista) | cabo Cirilo (militar) | seu Valdemar (zelador) | Artur Rozestraten (vizinho) | Hugo Rozestraten (vizinho) | Ana Rosa (amiga) | Pierre (amigo francês) | Claire (amiga francesa de Marcão) | madame Lésage (mãe de Claire) | madame Dupin (mãe de Pierre) | monsieur Gauthier (professor francês) | monsieur Fauré (professor francês) | monsieur Legrand (diretor francês) | madame Ledoux (professora francesa) | Sorel (colega francês) | Antoine (colega francês) | Armand (colega francês) | Jean-Paul (colega francês) | Sarinha (exilada) | Jucá (exilado) | Mariana (exilada) | Ângelo (exilado) | Pedro (exilado) | seu Adolfo (pai de Sarinha) | André (livreiro) | madre superiora | freira | entregador de gás |

Locais: A fictícia cidade paulista Canaviápolis (nas edições da editora Brasiliense a cidade chamava Entre Rios), cidade de Puerto Suárez (Bolívia), Chile, cidade de Paris (França).

Edições: 1ª (1981), 2ª (1981), 3ª (1982), 4ª (1983), 5ª (1983), 6ª (1983), 7ª (1984), 8ª (1984), 9ª (1988), 10ª (1989), 11ª (1990), 12ª (1991), 13ª (1992), 14ª (1994), 15ª (1995), 16ª (1995), 17ª (1996), 18ª (1997), 19ª (1998), 20ª (1999), 21ª (2000), 22ª (2002-2015), 23ª (2016-atualmente).

Em 2006 foi publicado em dois volumes uma edição em braille pela editora Biblioteca Louis Braille, de São Paulo-SP.

Capítulos (27): 
[Nota: As edições da editora Brasiliense tinham 19 capítulos identificados apenas por algarismos romanos, sem título. Os títulos dos 27 capítulos abaixo são das edições da editora Ática.]
 1 | Um binóculo de lentes quebradas 
 2 | O sino do dia do Ricardo 
 3 | Vai gás aí, dona? 
 4 | Cristo também era jornalista? 
 5 | Esse negócio besta chamado exílio 
 6 | Si vás para Chile...
 7 | Mãe, eu vou morrer. Me balearam, mãe! 
 8 | O Cristo Redentor dá adeusinhos cúmplices 
 9 | Allons enfants la patrie...  
10 | Pierre, um gozador 
11 | "Pra frente, Brasil", salve o "Ouviram do Ipiranga" 
12 | Milton Nascimento, um ilustre desconhecido
13 | De repente, um som que me traz saudades
14 | O tiro que saiu pela culatra
15 | Uma verdadeira Torre de Babel
16 | Um brasileiro intruso
17 | Um convite indecoroso
18 | Encontros presidenciais
19 | Uma aula sobre o Brasil
20 | Uma bandeira pintada por um francês e um hino nacional desconhecido
21 | O boato da semana
22 | Um 7 de setembro em maio
23 | Uma notícia de tirar o fôlego
24 | Um momento muito difícil
25 | Reunião de subversivos?
26 | Você foi é homem, foi macho toda vida
27 | Adieu, bresilien! 

Prefácio 1: Com licença, posso entrar? (por Luiz Puntel) [edição de 1988]
    A ideia deste livro nasceu quando eu lecionava Português no Otoniel Mota, em Ribeirão Preto, uma escola de segundo grau, um dos mais antigos estabelecimentos escolares do Estado de São Paulo.
    De repente, no meio de orações coordenadas e subordinadas, lá no fundão da classe, visualizei o rosto de um garoto bonito: magro, nariz fino, rosto imberbe, cabelos claros, revoltos e olhos extremamente tristes. Na caderneta, apenas um número e o nome, coisa que não diz muito; aliás, diz muito pouco.
    Na hora do recreio, procurei conversar com ele, "levar um lero", como eles dizem. O sotaque era de garoto português, o que me intrigou. Mas José Pedro não era português, era angolano: fugira com os pais da revolução de Agostinho Neto. E estava no meio dos outros, decorando para ele a imbecilidade das orações coordenadas e subordinadas, com o pensamento a milhares de quilômetros, pensando no horror da fuga, deixando para trás sua namorada, seu país, sua cultura e tento de se conformar em viver no Brasil, um país estranho, falando palavras que não faziam parte do seu código linguístico, comendo uma comida que não era a sua, olhando para mulheres de maneira diferente, sem o seu jeito africano de entendê-las.
    Na mesma época, os noticiários televisivos anunciavam a chegada dos exilados brasileiros e de seus familiares, via anistia.
    Nem bem os meninos desceram dos aviões lotados, encaminharam-se para as escolas. Ao entrarem nas classes, perguntaram em francês, em dinamarquês, em sueco, em inglês, em castelhano, se era aqui mesmo que haviam nascido, que haviam passado a infância, perguntando se era aqui mesmo o Brasil.
    Ressabiados, pediam desculpas por chegarem atrasados à escola. E o atraso não foi causado pelo tráfego intenso nem por um dia chuvoso, mas sim por um tempo de arbitrariedades, onde, para alguém ser preso, bastava um telefonema anônimo ou um dedo apontando na direção de um nome.
    Sei que chegaram ressabiados, com o mesmo olhar medroso do José Pedro. E a cada um que pedia "com licença, professor, posso entrar?", sei que a vontade era parar a aula e os receber com uma salva de palmas. Afinal, eles não tinham culpa de estarem atrasados, não é mesmo?
    Quando foram publicados Deus me livre! e Açúcar amargo, por esta mesma editora, estive em muitas escolas, conversando com os alunos, falando sobre essa necessidade fisiológica que é o escrever. Deparei com as mesmas carinhas de espanto e medo. E agora não eram apenas brasileiros, mas nicaraguenses, argentinos, bolivianos, angolanos, portugueses, uruguaios, chilenos, vietnamitas, todos fugindo de golpes de esquerda e de direita, indistintamente.
    E é para esses garotos, para esses meninos sem pátria que o livro é oferecido. Para garotos como José Pedro Mendonça Filho, angolano; Guillermo, nicaraguense; Angelito, uruguaio; Juan, argentino; os filhos do Babelo, do Lucena; enfim, para todos os brasileiros exilados, banidos e deportados, não só pela revolução de 1964, mas por todas as revoluções brasileiras. E para um boliviano que acabei não sabendo o nome, porque ficou mudo de medo.

Prefácio 2: Emoção num episódio de nossa História recente [edição de 1996]
    Nas próximas páginas você vai acompanhar a vida de um garoto, filho de um perseguido político brasileiro que foi obrigado a refugiar-se com a família no exterior. Nos anos 1960, os militares tomaram o poder no Brasil, com um golpe de Estado, implantaram um governo autoritário que acabou com as liberdades democráticas no país.
    Nos primeiros momentos, esse governo foi muito duro com seus opositores. Alguns foram mortos, outros presos, e muita gente, para escapar da perseguição, foi obrigada a ir viver longe da pátria. Já pensou?
    É essa a história que você vai ler. Ela tem muito de aventura, embora não deixe de ser dramática. A trajetória de Marcão, no Brasil e no exílio, juntamente com a de muitos meninos que ele vai conhecer nos países em que é forçado a morar, não é brincadeira!

Premiação: Meninos sem pátria foi um dos dez indicados a "Melhor Texto" do I Prêmio Bienal Banco Noroeste de Literatura Infantil e Juvenil, promovido pela VII Bienal Internacional do Livro de São Paulo-SP, em agosto de 1982. O livro que levou o prêmio foi O sofá estampado, de Lygia Bojunga Nunes.

Edições em outros países: Meninos sem pátria foi publicado no Japão em setembro de 1989 pela editora Kadensha (花伝社) com o título Sayonara Burajiru: Kokuseki fumei ni natta kodomotachi (さよならブラジル―国籍不明になった子供たち), em tradução de Toneko Kodaka (小高 利根子). O nome de Luiz Puntel na capa do livro foi gravado como ルイス・プンテル (Ruisu Punteru). O título japonês traduzido é "Adeus Brasil: Crianças de nacionalidade desconhecida".
Sayonara Burajiru: Kokuseki fumei ni natta kodomotachi | Ruisu Punteru (Luiz Puntel) | Editora: Kadensha | Japão | Setembro 1989 | Tradução: Toneko Kodaka |
capa da edição japonesa

Em outubro de 2018, um grupo de pais de alunos do Colégio Santo Agostinho, localizado no Rio de Janeiro-RJ (no bairro Leblon), se revoltaram com a indicação do livro para alunos do sexto ano do Ensino Fundamental (antiga quinta série) alegando "ideologia comunista", o que resultou da suspensão da leitura pela direção da escola. Em entrevista, Puntel comentou: "Eu fiquei surpreso. Meu livro é sobre a ditadura, um fato histórico. Jamais imaginei que, em 2018, seria censurado. Meninos Sem Pátria rendeu mais de 20 edições, sempre com boa aceitação do público e, principalmente, das escolas, que o recomendam para leitura didática. Não faz sentido acusá-lo de doutrinação ou proselitismo ideológico." [fonte: El País]

Orelha 1: Na década de 1980, a série Vaga-Lume trazia uma sinopse da história no formato de histórias em quadrinhos na orelha do livro através do personagem Luminoso, o mascote da coleção. Tais quadrinhos eram assinados por Edu (Eduardo Carlos Pereira). Segue o texto da orelha de Meninos sem pátria:
Meninos sem pátria. Luiz Puntel. Editora Ática. Série Vaga-Lume. 1988-1993 (9ª a 13ª edição). ISBN: 85-08-02769-9. Capa de Jayme Leão (ilustração) e Ary de Almeida Normanha (leiaute). Ilustrações de Jayme Leão.
Oi, pessoal! Por que será que o pai do Marcão está fugindo no caminhão de gás? E agora? Marcão e o irmão Rico está correndo sob tiros da polícia! Qual será o motivo? Por causa desse mistério todo, Marcão e a família vão morar na França. Lá acontecem lances incríveis! Olhem só o Marcão com Claire, a namorada francesa. Eles estão apaixonados! Querem saber do que se trata esta história? Então venham comigo ler esse livro emocionante. 

Orelha 2: O texto a seguir foi escrito pelo próprio Luiz Puntel para a orelha das edições publicadas pela editora Brasiliense.
    Quando cabo Cirilo entrou pela porta principal da pequenina Entre Rios, gerando o pânico e o medo, Marcão e sua família tiveram que sair pelos fundos, corridos como cães danados. Saíram com a roupa do corpo, levando na diminuta bagagem, um carimbo que soa como um palavrão: exilados.
    Saindo do país, Marcão e sua família estiveram na Bolívia, no Chile, na Suécia e na França. De habitantes pacatos e ordeiros de uma cidadezinha do interior, eles aprenderam a viver de malas prontas e ouvidos atentos, olhando desconfiados para todos e tudo.
    Mas Marcão não foi o único garoto a passar por isso. Durante um certo tempo - tempo longo demais, meu Deus - as praias deste país deixaram de ser tão risonhas e as mulatas tão coloridas. Foi quando o pau comeu solto, via caça aos que não rezavam a mesma cartilha. Como Marcão, muitos garotos agarraram o que foi possível, botando o pé na estrada, fazendo a sua cama em um país para acordar em outro. Como Marcão, foram muitos os meninos sem pátria, heróis anônimos que jamais ganharão estátuas ou monumentos, mas que merecem o respeito de todos nós.
    Um pouco destas histórias verídicas vocês lerão neste livro, vivendo com Marcão e seus amigos o sufoco de se ter um país emprestado.

Fontes:
  • AGENDA BAFAFÁ. José Maria Rabelo: Parece que estamos chegando ao fim de uma era. Entrevista. 28 maio 2016. Disponível em: <https://bafafa.com.br/mais-coisas/entrevistas/jose-maria-rabelo-parece-que-estamos-chegando-ao-fim-de-uma-era>. Acesso em: 17 novembro 2020. [Internet Archive]
  • COLETIVO LEITOR. Meninos sem pátria. Disponível em: <https://www.coletivoleitor.com.br/nossos-livros/?s=meninos+sem+p%C3%A1tria>. Acesso em: 17 novembro 2020. [Internet Archive]
  • PIRES, Breiller. "Meu livro é sobre ditadura. Jamais pensei que seria censurado", diz autor de 'Meninos Sem Pátria'. Entrevista. 5 out 2018. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/04/cultura/1538677664_945391.html>. Acesso em: 03 abril 2019. [Internet Archive]

Por: Daniel Medeiros Padovani, publicado em 19 de maio de 2014, 
com atualização em 17 de novembro de 2020.

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